Porto Rico do Maranhão, MA – A 150 quilômetros de São Luís (via Ferry Boat), uma distância que se torna um oceano de abandono, o município de Porto Rico do Maranhão afunda em um mar de contradições. Uma recente reportagem da TV Mirante escancarou uma ferida profunda: a cidade está entre as três com o pior índice de alfabetização do estado, um retrato cruel de um futuro roubado. Este, no entanto, é apenas o capítulo mais recente de uma tragédia administrada pela prefeitura, liderada por Aldo Brown (PL-MA), cuja gestão é alvo de inúmeras denúncias e investigações.
A vida no município é tecida com os fios da resistência. Homens e mulheres vivem da pesca artesanal, da agricultura de subsistência e dos magros salários do funcionalismo público. O acesso a serviços básicos é uma epopeia diária: postos de saúde faltam o essencial, a assistência social é uma miragem, a água potável na zona rural é um luxo e as estradas vicinais, verdadeiros trilhos de lama, isolam comunidades. O emprego e a renda são fantasmas que assombram a maioria dos lares, tornando a peregrinação para São Luís e Goiânia em busca de oportunidades uma sina comum.
Enquanto a população navega nesse mar de escassez, o prefeito Aldo Brown e sua cúpula parecem habitar um navio de luxo ancorado em águas distantes. Aliado de Josimar de Maranhãozinho, figura que também enfrenta sérias questões na Justiça, Brown parece ter importado para seu governo a cultura do privilégio em detrimento do dever.
A Viagem que Simboliza o Abismo
Enquanto crianças lutam para decifrar as primeiras letras em escolas precárias e famílias se desdobram para conseguir uma consulta médica, dois dos principais secretários do prefeito desfrutaram do clima ameno e do requinte europeu de Gramado, no Rio Grande do Sul.
A secretária de Administração, Karla Passinho – sobrinha do prefeito, em um claro caso de nepotismo – e o secretário municipal de Saúde, Nelson Louzeiro, foram flagrados em redes sociais vivendo uma realidade paralela. As imagens mostram passeios pela serra gaúcha, em uma viagem cujo custo, estimado em milhares de reais por pessoa, equivaleria ao salário anual de muitos de seus concidadãos. Na comitiva também estavam a filha da primeira-dama, Monique Luz, e a assessora administrativa da prefeitura Layla Vanessa, além de outros convidados.
Mais grave ainda é a estratégia usada por esses integrantes do alto escalão. As viagens não são postadas em tempo real. O método é simples: os registros de luxo, fotos e vídeos, só aparecem dias depois, já com todos de volta a Porto Rico, no convívio da comunidade e até despachando normalmente em suas secretarias. Assim, criam uma falsa percepção de que as viagens ocorreram em outro momento, longe dos dias em que deveriam estar no exercício de suas funções públicas. Trata-se de uma forma de manipulação, calculada para evitar questionamentos imediatos e confundir a população sobre a real ausência no trabalho.
A pergunta que ecoa nas ruas e praças inacabadas do município é inevitável: a que custo? Qual agenda oficial justifica tal deslocamento, com todos os custos de passagens aéreas, diárias e hospedagem, para um município que definha nos piores índices de desenvolvimento humano? Que intercâmbio de conhecimentos em Administração e Saúde se pode aprender em Gramado que seja aplicável à realidade crua de Porto Rico?
Está explicada a farra das diárias, motivo pelo qual o Ministério Público investiga o caso?
O Silêncio Eloquente e o Histórico de Farra
A reportagem tentou contato com a assessoria de comunicação da Prefeitura para esclarecer o objetivo oficial da viagem, a fonte dos recursos e se houve licitação para a contratação dos serviços. Esses questionamentos são pertinentes, uma vez que não há informações oficiais confirmando que ambos estavam de férias regulares, seguindo os trâmites administrativos adequados. Portanto, supõe-se que deveriam estar em seus postos de trabalho. Os dias de ausência serão descontados de seus contracheques? Até o fechamento desta matéria, não obteve resposta. O silêncio é eloquente e serve apenas para alimentar a desconfiança de uma população cansada de ser espectadora de sua própria desgraça.
A viagem a Gramado não é um fato isolado. Este ano, entre os dias 15 e 22 de maio, o prefeito Aldo Brown esteve com quase 20 pessoas passeando em Goiânia e Brasília, a pretexto de participar da marcha dos prefeitos – uma caravana enorme que nem mesmo o prefeito da capital, Eduardo Braide, levou. A pergunta que se impõe é: tem dinheiro sobrando em Porto Rico do Maranhão?
A viagem é o símbolo máximo de uma gestão que parece ter se divorciado da realidade que jurou transformar. É a materialização do abismo que separa os governantes dos governados. Enquanto o povo se afoga, a cúpula do poder ajusta seus pedalinhos no lago mais charmoso do Sul do país.
A pergunta que fica, e que deve ecoar nas urnas e nas instituições de controle, é: até quando Aldo Brown e sua equipe continuarão administrando o município como um feudo pessoal, ignorando o naufrágio social, educacional e de saúde que promovem? O povo de Porto Rico do Maranhão merece mais do que migalhas e fotografias de viagens luxuosas. Merece, antes de tudo, respeito.
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